quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Sempre Grotesco

Numa tentativa frustrada de ser/parecer poético descobri que a poética romântica está nas palavras que não são ditas. Esta nos gestos que, por menores que sejam, são executados com maestria.
Descobri que o patético pode ser,e é geralmente muito poético. E acaba por se transformar no decorrer dos muitos caminhos de sentimentos e emoções em algo artístico, belo. O patético está ligado àquilo que nós tentamos desesperadamente esconder, talvez de nós mesmos e verdade. Uma verdade suja e nojenta, aquilo que nos forma enquanto seres. Tentamos nos livar dela com a esperança de sermos melhores e acabamos negando uma parte especificamente linda, que só o grotesco pode nos oferecer.
Enquanto seres que escondem-se nas sombras, nosso dever é deixar guardado tudo que de ruim temos. Manter distante dos olhares curiosos: nossos medos, fantasias, desejos, afetos, imundices.
Descobri que a felicidade não está em quanto vc ganha ou quanto perde. Está em passar uma tarde de dezembro com algum amigo catando os pedaços de estrelas que caíram do céu, contando segredos, que geralmente só se pode confiar a um único. Tirando o passado do armário reformando as partes feias e deixando tudo mais branco para ser sujo novamente.
Hoje, e somente hoje descobri que podemos e devemos ser intensos.
Somos todos seres vis, grotescos, asquerosos. O mínimo que devemos fazer é tentar fazer desse grotesco o melhor possível tornando-o belo, mas sempre grotesco.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

O que eu gostaria de dizer...


O que eu gostaria de dizer é que eu não sei a forma das coisas, o tempo das coisas, o lugar , a ordem dos dias, a cor das faces. Eu não sei pra onde esse barco vai, em que porto ele vai atracar. Eu gostaria mesmo de dizer que as alegrias me são muitas e as tristezas infinitas. e por mais que eu tente negar eu devo dizer aqui, devo assumir, que todos os riscos que assumi, os lugares em que deixei de estar para hoje, estar dizendo que não existe verdade, são os lugares que construiram a minha personalidade e os lugares que eu construi.
Não existe uma só verdade em toda a humanindade. Existe apenas a representação de muitas verdades universais. Quando criança costumavam me dizer que só as coisas que eu via eram verdade, costumavam me dizer que bicho-papão, cuca, e "véio do saco" eram apenas para enganar as crianças, eu era uma delas. Não me lembro de acreditar em papai noel, mas já ouví casos de crianças roubadas por "velhos do saco"
Me lembro de ter fantasias como qualquer outra criança. e Era duende, cachorro, sapo, amigo irmão, namorado. Eu podia e posso ser qualquer pessoa.
O que eu tenho realmente de importante para dizer é que a confusão se tornou tão presente que às vezes não sei mais se o presente já acontece ou se ainda estou no passado. Mas essa confusão toda, esse entremes de detalhes sórdidos que estão ou que já estiveram na minha vida, me fazem ver que o mais importante é manter o fogo sempre aceso. Porque tudo muda o tempo todo.
O que eu realmente posso dizer no momento é que o meu desejo não tem nome. Meu desejo é metamórfico, minhas emoções possivelmente controláveis. Minhas verdades estão sempre esgotando-se, se tornando mentiras. E eu sinto que nem sempre o que existe é o que se pode ver. Há muito mais de invisível no que vive plenamente em nós.
O que eu gostaria de dizer, é que tirando as verdades imutáveis, os valores que não pertencem a todos. Em se tratando de vida tudo é sempre imperfeitamente mutável, tudo varia, tudo tem um outro lado, uma outra cara, outro caminho. E isso tudo depende de como você quer enxergar.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

No Mezanino do Inferno.


Na igreja Católica Apostólica Romana o limbo é um lugar entre o céu e a terra onde ficam almas inocentes que, contudo, sem terem cometido de fato um pecado mortal ficam eternamente privadas da presença de Deus. "Criado" por São Gregório e posteriormente aperfeiçoado por São Tomás de Aquino, seria a alternativa criada para resolver o problemas das crianças que morriam sem serem batizadas, por exemplo.
Conceitos à parte, hoje é um dia especial. Hoje, foi o dia em que me dei conta do fato de que estou no limbo, não estou nem de um lado nem de outro. Estou entre o céu e o inferno, entre a faca e o queijo (o que me rendeu um belo e fundo corte no dedo). É como se eu estivesse preso entre a névoa e o calor do sol em uma manhã de outono em que as casas ainda se encontram silenciosas e as ruas vazias.
Estar no "Mezanino do inferno" é pior do que estar nele de fato. É como estar sempre no meio do caminho, sempre entre o antes e o depois, sempre entre a possibilidade de se tornar e a realidade de inda não ser. É como um sensação de impotência, porque as vezes o que vc sente é pior do que as pobres almas que estão no limbo e sem conseguir ter a magnânima presença do Todo-poderoso, ficam lá: contando as pertículas de águas que formam as núvens.
Talvez o limbo terrestre seja dia após dia ver que seus esforços parecem ser em vão. Isso obviamente te faz pensar se está dando tudo de sí, te faz pensar que poderia ser melhor, no amor, na limpeza, no trabalho, nas relações. E derrepente numa terça-feira qualquer de outubro você consegue se notar entre milhões de pessoas e se vê peloas olhos do outro, alí voltando de algum lugar onde tinha depositado algumas fichas da sua sorte, meio fracassado meio esperançoso de que o Mezzanino do inferno seja pelo menos um bom lugar para se observar os que te rodeiam. Apesar de parecer que está olhando tudo de camarote, te dá sempre aquela vontadezinha de pular sobre o palco e gritar a que veio. Depois desse devaneio, você cai em sí e percebe o tempo todo haviam grades impedindo a sua saída. Seria triste, se você não tivesse um maçarico e algumas limas na mochica.

sábado, 4 de outubro de 2008

Ontem eu me paguei pensando em nada. Depois de um dia cheio eu me encontrei parado, estático, de braços caídos e com a água descendo pelo corpo. Não lembro no que pensava provavelmente pensava em nada.
Sabe aquele momento em que vc está totalmente alheio a tudo e ao mesmo tempo não? É difícil explicar, mas é assim: Você está olhando fixamente para algum lugar e ao mesmo tempo não olha para lugar nenhum. Credo , parece que nesse momento a sua alma vai dar uma volta e abandona por poucos segundos o corpo que fica vazio.
Olhando pra dentro olhando para o nada, para o vago, me deu medo. Medo de ficar assim pra sempre, sempre olhando para o que parece não existir.
Para um dia chuvoso está mais do que ótimo essas poucas linhas.
Hoje me sinto como se tivesse esquecido ou perdido alguma coisa. E ultimamente esse sentimento é constante, saio dos lugares e sempre olho para trás.
"Hoje eu poderia estar em qualquer lugar, mas escolhil ficar aqui e ver o fim. E o fim, é só o lugar para onde partimos."
Tá bom neh!

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O que hoje, posso comparar a um doce francês.


Outro dia, voltando de algum lugar, de ônibus. Entre conversas que ouvia de pessoas ao redor sobre; política; planejamento doméstico; baladas; e sexo, senti que um vazio tomava conta do meu peito. E por um momento minha cabeça esvaneceu-se de pensamentos e ficara vazia. Vazia. Vazia de qualquer coisa que pudesse ser pensada, planejada, cantada, imaginada. Senti um terível medo de ficar assim para sempre e não poder mais fazer parte desse "mundo". Então de repente as coisas voltaram ao normal, ou quase.
Mesmo estando novamente no mundo dos pensantes, eu não vivia, apenas pensava porque era obrigado a pensar. E logo as coisas que tinha a fazer durante a semana, os trabalhos de faculdade, as contas a pagar me tomaram o cérebro e eu estava como todas as outras pessoas do ônibus: fingindo uma suposta felicidade e vivendo uma pseudo vida.
Na metade do caminho, comecei a tentar lembrar quando foi realmente a última vez em que me senti realmente vivo. Sabe, aquela sensação que temos de estar vivos? Não sei, é uma mistura de felicidade, uma euforia, uma vontade de fazer as coisas todas de uma vez só e sair abraçando e beijando todo mundo. Bom, isso sem cafeína envolvida.
Numa espécie de regressão consciente, voltei a infância. Devia ter uns quatro ou cinco anos, estava na praia, era fim de tarde. Mas não um fim de tarde qualquer. Era um fim de tarde que me parecia tão vivo, parecia que o céu ia pegar fogo, de um vermelho intenso, quase laranja. E a chuva que caía era gostosa, fria. Lembro que tinha algum adulto junto. Não lembro quem. E lembro mais do que qualquer coisa a sensação que tinha ao entrar naquela água do mar quentinha fazendo um contraste com a chuva fria. Hoje posso comparar a um doce francês. E essa foi uma das últimas vezes em que me senti vivo de verdade.
Claro que depois desta devo ter sentido algo parecido outras vezes. Mas nada será igual a isso. Uma lembrança tão clara, das temperaturas, das cores. E hoje em dia só atinjo esse estágio de vivacidade quando estou "realmente"em cena. Assim, e só assim posso sentir que tenho quatro anos...
Porque mesmo que eu acordei pensando nisso? Ah! talvez porque esteja perto do meu dia de ficar mais velho.