segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Aço fedendo a perfume barato.

Voltava abaixo de um sol escaldante que parecia lhe queimar a cabeça e a alma, se é que depois de toda aquela noite ainda possuía alguma. No ónibus que cheirava a aço quente e perfumes baratos de todas as qualidades; apenas um odor sobressaía. O Odor de um perfume caro que tinha agora em seu pulso. Pulso. No momento seu pulso estava pulsando de maneira a que -se ele quisesse- poderia contar na própria jugular os batimentos cardiacos. Mas no momento ele se contentava em tentar não ouvir os funk's que vinham um grupo de garotos que ouviam músicas em alto e bom som em um celular brigando os demais passageiros a degustar o bom gosto. E a viagem parecia não acabar nunca. Lá dentro sentia-se como intocável, e apesar de desejar se sentir invisível sabia muito bem que não podia passar despercebinamente por alguém normal. Não estava com cara de4 alguém normal. Pupilas dilatadas, e olhos semicerrados. Cara de ontem, cara de quem precisa desesperadamente de um banho e um bom sono para abrandar seu coração leviano. Sim ele tinha um coração leviano. Porque por ventura foram levianos com o seu e achou que seria uma forma de proteção ser com o dos outros também. Maesmo sabendo que no fundo não era. Gostaria de ter o dom de ser, intovável e inatingível. E naquele exato momento acabou por se tornar.
Passou a semana imaginando e tentando descobrir porque fazia as coisas que fazia e quando fazia. Não conseguira perceber que o real motivo de fazer as coisas erradas eram pelas razões certas. Porque se ele se jogava na balada, se perdia nos corpos e nas bocas e narizes de pessoas conhecidas; ou não; era porque ele tinha perdido um pedaço de sí. Apesar de não saber de qual pedaço se tratava ele continuaria por algum tempo ainda a sentir falta de tal parte tão sua e tão INsignificante.
Sobre o pedaço.
Era quase como um pedaço de carne crua e suada um pedaço de gente talvez. Uma metade de nada. Ou uma peça inteira de qualquer coisa que não sabe o que é ou não quer ver. Porque no momento ele pensava em uma maneira de achar dentro de sí a peça que faltava. Sim, ele acreditava no duplo e talvez no múltiplo sentido das coisas. Não que desejasse achar uma explicação para tudo, porque tentar explicar tudo é uma e, talvez a maior de todas as formas de idiotice. Mas ele acreditava que as coisas assim como as ações e acontecimentos tinham uma ligação direta e influenciariam as posteriores. E sempre acabavam por.
A parte que perdera de sí talvez estivesse consigo mesmo. Talvez alguém tivesse lhe roubado. Mas ele sabe. Ele sabe muito bem como encontrar, só precisa se decidir por se dar uma chance. Precisa agora descer desse ônibus de aço fedendo a perfume barato, ir pra sua casa e dormir depois de um longo e demorado banho. Pôr a cabeça no lugar e não falar nada. Não falar. Um dom e uma necessidade tão negligenciada por sí nos ultimos tempos. Tem sido tão verborrágico que nem mesmo consegue pensar. Ele tem se negligenciado a muito tempo e em muitos aspectos. Mas ele continua. ELE finalmente desceu e cumpriu seu chamado ao desconsso decidindo o que fazer. Ele dorme agora. E por mais umas quatro horas. desejando secretamente não acordar. Mas isso é só uma mania que tem de querer fugir das coisas da vida.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Entre a casca de laranja e o cigarro de filtro vermelho.


Debaixo da soleira da porta havia uma pequena casca de laranja que havia sido deixada a pouco. Nem sinal de movimentações, nem sinal de qualquer indício de vida no lugar. A casa mostrava-se vazia, estava o ambiente todo inócuo. Ao fundo conseguia-se ouvir de algum aparelho de som a voz rouca de Billie Hollyday que preenchia todo o ambiente inebriando os corações que por ventura estivessem por chegar, ou acabaram de sair. Era uma manhã de sol dessas de agosto que são muito frias mas não se observa nuvem alguma no céu. Era uma manhã calma, onde o silêncio era cortado apenas pelo barulho voraz dos carros conduzidos por motoristas que passavam pela frente da casa a caminho do trabalho.
A casa. A casa não era muito grande nem muito pequena. Era do tamanho certo para uma pessoa que vivesse sozinha e vez ou outra recebesse algum amigo. A sensação que se tinha ao entrar pelo hall e entrando mais ainda pela sala era que alguém tinha acabado de colocar os objetos no lugar. Tinha-se sempre a impressão de que haviam tirado pó e recolocado o objeto no mesmo lugar, ou quase. Tudo era sempre organizado e limpo, e podia-se sentir no ar um leve aroma cítrico, algo como laranja, ou folhas de limão. Esse cheiro que por vezes tornara-se enjoativo para o personagem que está por surgir agora, era cortado apenas por um outro aroma salgado que pairava no ar.
Por algum motivo era como se a casa estivesse sem vida. O telefone começa a tocar. Nada. O telefone continua tocando. Nada. Ao lado da mesinha onde ficava o telefone estava um cinzeiro cheio de pontas apagadas de cigarros de filtro vermelho. Apenas um estava aceso, mas quase apagado, por algum motivo alguém deixou o cigarro queimar sozinho. Por algum motivo alguém saiu e não pode voltar para terminá-lo.
Falemos sobre o aroma. Não o aroma cítrico e bucólico, mas o aroma salgado. Ele surge logo antes do telefone tocar, antes mesmo do cigarro ser aceso. Logo depois da laranja ser cortada. Além da soleira da porta que estava entreaberta observava-se uns pezinhos. Uns pés descalços e limpos como de quem acaba de acordar e por alguma razão não pôs os chinelos. Além dos pezinhos estava uma possa de sangue vermelho ainda quente. Na mão do corpo que continha os pezinhos estava uma laranja semi-descastaca . Uma porta bate. Já são dez horas, os carros já não fazem tanto barulho, o telefone já não toca. O silêncio retoma a casa, em uma manhã de cheiro cítrico e salgado a rotina tão própria havia sido quebrada.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Os vagões cheios de nada.


"Então, deveria ter deixado claro que as coisas que são vâs devem permanecer como tais. Caso contrário, as coisas cheias de significados deixam de tê-los. Se o que for vão passar a ser cheio de conteúdo então não existiriam coisas vãs.
Parece uma afirmação meio lógica, um tanto óbvia. Mas não. Não acredito que existam coisas vãs, inúteis. Acredito que por mais sem sentido que algum acontecimento ou palavra ou ação ou emoção possa parecer na verdade está cheio de significados intrínsecos e verdadeiros. "
Não posso negar que inúmeras vezes ele fez das coisas vãs suas melhores aliadas. Mas o que vemos acima talvez não sejam suas palavras. Talvez sejam palavras que lhe ditaram à orelha. Talves sejam palavras que lhe sopraram aos ouvidos numa noite qualquer de agosto. E ele tem a necessidade de transmití-las. Seja como for, sua mania em ser verborágico o assusta. Ele acredita que de todas as palavras que profere mais da metade sejam vagas e fiquem entre o certo e o duvidoso. Ele teme a verboragia, como teme os vagões cheio de nada. Teme ficar no vão enquanto essas vagões passam por cima.
Esses vagões cheios de nada o assustam, mas não impedem-no de continuar a viagem. Não o deixam esmorecer, nem perder o fôlego. Por vezes deixa cair algo ou alguém que não tem a obrigação ou mesmo vontade de sentar-se junto dele na janela e aproveitar o passeio. Ele deixa que as coisas partam e voltem e partam novamente. Porque é assim que se vê: sem necessidade de aprisionar. Nem de ser aprisionado, salvo quando deseja.
Me disse isso sob o efeito de alcóol, e foi-se. Como quem veio do nada e para o nada vai. e Agora...
agora ele deve estar dormindo até as duas da tarde, porque ou ficou lendo até tarde, ou ficou assistindo a algum filme, ou saiu com os amigos, ou esteve em uma baladinha de drink's e cigarros até as cinco da matina. Que o sono seja dos justos. Deixem-no dormir.