sexta-feira, 3 de abril de 2009

O descanso de Narciso


Um barulho na fechadura. Ele entra em casa depois de um dia cheio de afazeres. Depois de passar na casa de um amigo e conversar um pouco sobre a vida e sobre a real situação de seu coração. Ele desejaria não ter o poder de discernimento entre reale ireal. Como gostaria de não acordar em certas manhãs de dia nublado. Mas ele chega em casa, larga sua bolsa em uma cadeira que fica no canto de seu quarto. Senta-se na beirado do que chama de cama e por alguns momentos dá-se o direito de não existir. Ali trancado em seu quarto,fechado em sua solidão mais íntima ele pensa no amor que talvez houvera jogado fora por uma impulsividade tão característicamente sua e ao mesmo tempo comum a todos os outros de sua idade. Nesse breve instante ele lembra de momentos onde fora feliz, mas lembra-se também que a felicidade não é um troféu que se consegue depois de uma vida de sofrimentos. E sim, breves momentos onde se consegue respirar ar puro.
Levanta-se, vai até o banheiro. Olha-se fundo nos olhos e deseja que o dia que passou seja pior que o que virá. Olha bem fundo dentro dos olhos e sente a tão famosa para sí; a dor que vai lhe subindo pela garganta. QUE desde que alguma coisa acontecia em sua infência e era proibido de chorar essa dor o vinha visitar e as lágrimas ficavam guardadas. Então, tirou a roupa, entrou debaixo da quente água que caía por suas costas descendo pelos quadris largos, fazendo parecer de mármore o glúteo e se perdendo entre as pernas.
Aquela água era a purificação de que precisava para talvez no outro dia desejar levantar. Saindo com ar ainda pesado seca-se bem em todas as partes e percebe que entra uma corrente de ar incõmoda. Vai até seu quarto e fecha a janela. Veste algo para dormir,sempre branco. deita-se e ainda com a luz acesa pensa se não seria melhor terminar por uma vez mais dormindo eternamente. Já não consegue se concentrar, já não fala com tanta desenvoltura como antes. Já não come, já não diz tantas bobagens. Já não sorri. Esta cansado e deseja apenas dormir. Dormiria o dia todo se pudesse. Mas ele não pode.

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